*Recomendada a leitura para pessoas com mais de 16 anos.
Meia-noite. Nada se ouvia. A luz da lua mostrava o essencial para que Sara pudesse andar sem tropeçar ou cair nos buracos espalhados por toda a estrada. Sozinha, com frio, mantinha em mente que tudo era um sonho, e que nada do que aconteceu realmente acontecera. A cada passo tentava criar confusões para esquecer o pesadelo que sofreu.
Ao redor não se via nada, apenas grandes árvores que evitavam a entrada da claridade da lua, formando grandes terrenos negros. A lua, por sua vez, se exibia majestosamente, parecera que zombava de Sara por ter se entregado tão facilmente para alguém que pouco conhecia.
“Como pude fazer isso?” era um dos poucos pensamentos que Sara podia decifrar. Sua cabeça estava confusa, cheia de opiniões, vozes de familiares e caminhos que ela poderia ter tomado para evitar tal acontecimento.
Sara tinha em mente que sofrera um grande trauma. Ela não havia realmente se entregado, fora forçada a fazer aquilo. Sem forças para lutar, atordoada e cansada, desistira, por fim acabara de entregar o “prêmio” para seu agressor: sua vida.
Claro que Sara não havia morrido, porém sua alma e seus sonhos lhe foram roubados por um brutamontes. Com nojo do próprio corpo, após tudo acabar e o estuprador fugir, Sara se auto-mutilara, tentando esquecer uma dor causando outra, entretanto fora inútil.
Alguns metros a frente, Sara avistara uma pedra onde poderia descansar e tentar organizar seus pensamentos. Lágrimas percorriam seu rosto, sem forças ou vontade para limpá-las, aos poucos se tornavam pequenas gotas gélidas.
Nada mais importava. Sara não tinha quaisquer sentimentos naquele instante. Não estava com raiva de seu agressor, porém se sentia destruída, abandonada e inútil.
Todos os pensamentos, aos poucos, foram se organizando. Assim, Sara começou a lembrar de como fora parar ali e como havia sido estuprada.
Sara era jovem, tinha apenas 22 anos, porém sofria calada por não conseguir manter seus relacionamentos. Ela não era feia, mas suas curvas estavam fora do “padrão” que considerava ideal. Sofria de depressão e bulimia, o que cooperava para a baixa auto-estima. Tinha poucas amigas, perdera seus pais há alguns anos e não existiam pessoas que estavam dispostas a ajudá-la ou escutá-la.
Logo de manhã, no mesmo dia do ocorrido, Sara levantou-se cedo, se arrumou e partir rumo a uma lanchonete onde tomara um café, puro, e comera duas bolachas para não engordar. Isso era visto como um ritual e raras às vezes não era cumprido.
Do outro lado da lanchonete, um senhor, com seus 68 anos, observava-a atentamente. Por semanas isso era feito, porém Sara nunca percebeu. Sempre sentava-se de costas para o balcão, onde o senhor estava. Ao seu lado, um jovem com 23 anos fazia o mesmo, ambos haviam resolvido que passara tempo demais e que esse era o dia em que agiriam.
Rodrigo, o jovem, tinha olhos verdes, cabelos castanhos e pele clara. Praticava natação aos finais de semana e futebol nas terças e quintas, o que lhe atribuía um corpo invejável. Pelo menos o suficiente para fazer uma mulher, como Sara, se apaixonar.
Enquanto o jovem agia, o velho observava. Em momento algum trocaram palavras ou demonstraram que se conheciam. Rodrigo virou-se de frente para o balcão, tomou tranquilamente o que restava de seu suco, quitou sua dívida com a lanchonete e caminhou em direção a Sara, que estava lendo um jornal.
Inocentemente, Rodrigo cumprimentara Sara utilizando a desculpa que estaria no jornal. Surpresa, ela o convidou a se sentar enquanto procuraria pela foto do rapaz. A cada página virada, Sara desviava os olhos para ele e pensava, “que gato!”.
Aos poucos começaram a conversar, até que Rodrigo a convidou para jantar. Sem pestanejar, Sara aceitou. Ela nem ao menos duvidou da boa vontade do rapaz, por ser muito dura consigo mesma, Sara resolvera dar-se uma chance.
O dia passou rápido, Sara voou para casa e, uma hora antes do horário marcado, já estava pronta, ela realmente não queria se atrasar.
Rodrigo chegara cinco minutos antes do horário marcado, calmamente subiu até o apartamento de Sara e a conduziu até seu carro, que ela adorou.
Jantaram em um excelente restaurante no centro da cidade, conversaram sobre tudo, Rodrigo era realmente um cavalheiro, um galã. Sara estava apaixonada. Após o jantar, resolveram passear, Rodrigo decidiu levá-la para um lugar lindo, pelo menos fora o que ele falou para ela.
Quanto mais ficavam longe da cidade, mais Sara sentia-se amedrontada. Aos poucos fora se recordando das palavras de sua mãe que lhe eram ditas na infância “não fale com estranhos”, “não aceite nada de estranhos”. Porém, para tentar repelir esses pensamento, justificava-se alegando que precisava ser feliz e que como conheceria pessoas novas se não conversasse com estranhos. Mero engano que iria lhe custar muito.
Sara se surpreendeu, o lugar era lindo. A lua estava no topo do céu, iluminava todo o lugar. Alguns metros à frente, havia um grande lago, ao redor dezenas de árvores, eles estavam em uma grande clareira. Vendo isso, ela acabou ficando mais calma.
Atrás deles o senhor da lanchonete estava observando-os. Rodrigo sabia que ele estaria ali, porém Sara nem desconfiava.
Como se fosse outro homem, Rodrigo olhou para Sara e com um sorriso irônico lhe disse: “- Bem-vinda, querida, você nunca esquecerá esse dia”. Após completar sua frase, ele a esbofeteou com tamanha violência, somado a distração, que Sara acabara caindo.
Rapidamente, como quem não havia entendido nada, Sara ergueu a cabeça, olhou-o nos olhos, existia algo diferente nele. Por sua vez, Rodrigo começara a tirar as roupas de Sara, mesmo contra sua vontade.
Quanto mais Sara lutava, mais Rodrigo a agredia. Suas únicas armas foram as unhas, porém não eram suficientes para pará-lo. Cansada, com dores no corpo, com a boca sangrando e completamente nua, ele começou a agir.
Aos poucos Rodrigo tirava as próprias roupas, estava sorrindo, mais uma garota ingênua em sua lista de vítimas. Ao longe, na floresta, o senhor também exibia um largo sorriso de satisfação.
Rodrigo, agora completamente nu, antes de realizar o estupro virou-se rapidamente para aquele senhor, seu mestre, o que havia lhe ensinado tudo, e abaixou sua cabeça, em sinal de respeito e agradecimento.
Com violência, Rodrigo agarrou Sara e enquanto a estuprava sem dó, a agredia com força. Ela, sem poder reagir, paralisada, a única coisa de podia fazer era chorar enquanto era violada.
O dor era tanta que Sara gritava. Rodrigo não se importava com sua vítima, o que ele queria era ver dor e sofrimento, o que lhe causava muito prazer.
Satisfeito, Rodrigo nem fez questão de se vestir para seguir seu caminho. Pegou suas roupas, olhou novamente para Sara e dirigiu-se ao carro, onde o senhor estava esperando-o, satisfeito com as ações de seu pupilo.
Sara estava encolhida, nua, com frio e sangrando. Suas roupas estavam a alguns metros. Minutos depois de Rodrigo partir, ela juntou o que restara de suas forças, levantou-se, vestiu-se e começou a vagar sem rumo, caminhando na estrada, com a esperança que aquilo fosse mais um sonho, um pesadelo.
Quanto mais Sara andava, mais ficava consciente de que o que havia passado não era um sonho ou um pesadelo, fora realmente estuprada e enganada por um rostinho bonito, por uma voz sedutora.
Enquanto zanzava pela estrada, Sara olhava, em alguns momentos, para a lua. “Como pude me deixar levar?”, “Por que acreditei em alguém que nem conhecia?”, se perguntava, triste e desolada.
Sentada numa pedra, organizando seus pensamentos, chorava por ter se deixado enganar e, principalmente, por ter acreditado no amor que havia entre os dois. Não havia nada entre eles, Sara enganou-se a si mesma com aquela ideia.
Envergonhada e amedrontada pelas possíveis reações de seu familiares, e conhecidos, ao ficarem sabendo do ocorrido, Sara tomou uma medida desesperada, o que acabaria com sua dor, com seu sofrimento e com sua vergonha.
Levantou-se da pedra, caminhou rumo a um penhasco, há poucos metros dali. Ao chegar à beirada, chorando, soprando pedidos de perdão ao ar, ela se jogara. Naquele momento, tudo o que havia acontecido se foi, tornou-se páginas em branco num livro manchado de sangue.
Três dias depois, Sara foi encontrada por dois jovens. Todos os jornais da semana estamparam na capa a mesma manchete, “jovem se suicida”, porém ninguém sabia o motivo pelo qual a garota havia feito aquilo, poucos se arriscavam tentar adivinhar o que se passou pela cabeça de Sara.
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Quero agradecer a Clau pelo convite, obrigado, fiquei muito feliz por isso. Espero que gostem do meu conto, sugestões, críticas e elogios, por favor, façam nos comentários. Comentem. :)
Parabéns Luan pelo belíssimo conto!
ResponderExcluirE seja bem vindo a equipe, é uma honra ter vc conosco!=)
Parabéns!
ResponderExcluirEste conto é muito bonito!
Mais um talento em Luan
Eu queria muito um leitaute desse pra mim * ehehehehe. faria a capa de um livro.
ResponderExcluirBração
Cara, eu gostei do conto, gostei mesmo.
ResponderExcluirPara ver o meu blog, basta clicar no meu nick.
Um abraço.
adoro contos...
ResponderExcluirUm conto sombrio e melancólico, bem vindo!!!!!
ResponderExcluirObrigado pessoal! Este foi meu primeiro conto onde utilizei o estupro como método de "tortura", tentei fazer algo que não fugisse da realidade. Pelo que notei, vocês gostaram. Muito obrigado. :)
ResponderExcluir@luanfr
Luan, bem legal o texto que você escreveu. Há inúmeras qualidades que devem ser destacadas como a facilidade em detalhar e construir o cenário onde as cenas acontecem, mas há também o que se lapidar (obviamente olhando como professor). Fica, no entanto, meu incentivo para que você se atreva a escrever mais e mais...
ResponderExcluirParabéns!
cara gostei muito do conto alem disso gosto muito de contos de terror :D #Jeff
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